Por Gusmão Neto
É triste e muito grave esse discurso em repetição feito por pessoas extremistas que tentam desqualificar o Dia da Consciência Negra. Essa fala de Consciência Humana nada mais é do que um esforço coletivo, com efeito rebanho, de silenciar a luta antirracista. Ficam usando uma frase muito equivocada dita pelo ator norte-americano Morgan Freeman, que “para o racismo deixar de existir é só parar de falar nele”. Esse pensamento ganhou adeptos aqui no Brasil, sobretudo entre aqueles que se recusam a sentir ou perceber a diferença do outro e só querem interpretar a realidade da sociedade a partir de sua particularidade, normalmente privilegiada.
Esse pessoal precisa entender que enquanto a desigualdade persistir, teremos que evidenciar a discussão para refletirmos sobre a questão racial. Diferentemente do que o rebanho repete, o racismo não vai terminar como um passe de mágica. É um erro tremendo sustentar o discurso de que somos todos iguais e, por isso, não deveria existir uma data para celebrar a consciência negra, tentando fazermos acreditar que realmente somos iguais. Não nós não somos iguais. E que bom que não somos. Somos diferentes, somos diversos, não somente na cor da pele, nem no tipo de cabelo, mas também na nossa cultura, na nossa ancestralidade. E isso é muito bom. Não vamos cair nesse infortúnio pregado pela cultura colonial de manter a branquitude soberana. A luta é justamente por inclusão e igualdade de direitos.
Certamente aqueles que pregam pelo fim do Dia da Consciência Negra, o fazem justamente porque acham que o racismo não os afeta. E isso é outro equívoco, porque o racismo não está materializado apenas no ato de xingar alguém de “macaco” ou “preto preguiçoso”. O racismo, ele é estrutural, é um sistema destinado a oprimir e empobrecer quem o sofre.
A luta antirracista deve ser uma luta de todos. De negros e não negros. Enquanto ainda existir gente rindo de piada de preto, achando normal um governante dizendo que no quilombo os negros pesam 15 arrobas, isso é um claro sinal de que estamos longe do tempo de parar de falar sobre racismo. E todos os dias.